quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Crítica: Serena


Título original: Serena
Direção: Susanne Bier


Cotação: 2/5


Antes mesmo de filmarem O Lado Bom da Vida, que os levou a Los Angeles e deu a Jennifer Lawrence seu primeiro Oscar de Melhor Atriz, a jovem atriz e Bradley Cooper protagonizaram Serena, longa de Susanne Bier, que só este ano conseguiu finalmente ser lançado, depois de uma novela digna de um roteiro de Hollywood.

Roteiro este que, tomo a coragem de dizer, provavelmente seria melhor que o do dito filme. De fato, é preciso apenas 30 minutos de projeção para que se entenda a resistência que Serena enfrentou (de estúdios, produtoras e até mesmo dos atores, segundo os boatos mais maldosos) para finalmente chegar às grandes telas. No centro da trama, Lawrence encarna a protagonista Serena Pemberton, esposa de George Pemberton (Cooper), uma jovem que enlouquece após descobrir-se estéril e decide matar o filho que seu marido teve com outra mulher.

O texto de Christopher Kyle, baseado num livro de Ron Rash, é raso e não se preocupa em estabelecer a personalidade dos protagonistas ou de reservar mais do que poucos minutos para destrinchar um acontecimento, o que torna o longa totalmente esquizofrênico, no pior sentido da palavra. A montagem contribui com esse sentimento ao sobrepor sequências uma por cima da outra apenas por “prazer”, sem qualquer razão de contribuir com a história. Devido a tudo isso – e nunca aos atores - , os personagens de Serena e George não transmitem empatia alguma e se torna impossível uma conexão com o filme.

Lawrence e Cooper extraem o que é possível dentro deste cenário, mas não escapam ilesos de caras e bocas desnecessárias e atuações apáticas durante a metade final da história. O caminho instavelmente psicológico que tanto quanto George quanto Serena assumem no último ato e que poderia ser a tábua de salvação da história termina por ser a última pá de areia no caixão, por não possuir solidez e apresentar-se como apenas um elemento de “choque” na trama.

A direção de Bier peca nos mesmos pontos. Inconstante, a diretora não consegue inserir ao filme uma personalidade ou até mesmo uma vida. As cores vivas e o belíssimo design de produção (numa remontagem de época quase impecável, há que se dizer) não dizem nada quando aparecem aliados a cenas mecânicas, personagens apáticos ou situações dramáticas que, em sua maioria, soam muito mais como uma grande comédia involuntária – um exemplo bem claro disto são as sequências finais, aparentemente carregadas com um maior peso dramático que, contudo, morreu antes mesmo de ser executado.

Assim, uma história aparentemente promissora, torna-se, ao final de 109 minutos, uma colcha de retalhos mal costurados e um desperdício do talento de dois jovens atores. Aparentemente, a razão estava com as muitas pessoas que lutaram para impedir Serena de ser lançado. 

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Crítica: Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1

Título original: The Hunger Games: Mockingjay - Part 1
Direção: Francis Lawrence


Cotação: 4/5


Eles costumavam gritar meu nome. Agora o sussurram.

Os versos da cantora Lorde que acompanham os créditos de Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 dizem muito mais do que aparentam. Fazendo coro a uma frase dita pelo extravagante Ceasar (“A Capital a amava. Todos aqui adoravam a menina.”), percebemos que a primeira parte do final da história de Panem é um longa muito mais político do que seus antecessores. Esse fator, outrora rascunhado, finalmente ganha contornos mais definidos e trocando a ação por um intenso e angustiante jogo psicológico, a saga da garota em chamas atinge seu ápice e prepara o terreno para um grand finale que promete ser destruidor.

Esqueça as cores. Com um tom muito mais cinzento do que até então, Francis Lawrence (retornando depois do excelente trabalho em Jogos Vorazes: Em Chamas) sabe pesar a mão quando necessário e dar a suavidade nos momentos em que esta grita para existir. A quase ausência de vida do filme neste sentido é um retrato perfeito do que seus personagens passam: A angústia, o medo, a incerteza. A tão falada esperança, reforçada no título, é tão frágil quanto a atual situação nos distritos.

O estado de Katniss Everdeen, então, é a personificação deste misto de sentimentos. Já na primeira cena, somos jogados na mente da personagem e percebemos o quanto os jogos a mudaram – fato reforçado minutos depois numa fala de Alma Coin (Julianne Moore, em uma adição maravilhosa). Agarrando com unhas e dentes sua heroína, Jennifer Lawrence constrói seu melhor momento na saga até aqui, usando todas as chances que tem de brilhar (e elas são muitas, dado os muitos closes que Lawrence – diretor – escolhe usar, guardando as sequências abertas para poucos momentos).

O desespero de Katniss pode ser sentido em vários momentos durante as mais de 2 horas de filme e, muitas vezes, está em expressões. No modo de sussurrar o nome de Peeta (Josh Hutcherson), no olhar perdido procurando por um apoio, no cuidado ao andar até um hospital de feridos de guerra. Na raiva que extravasa. No medo que deixa transparecer. Na fragilidade que, aqui, está mais uma vez disfarçada pela casca dura – e por um traje de Tordo, papel que, relutantemente, a garota finalmente assume.

Hutcherson, inclusive, também consegue aqui seu melhor momento na série (e na carreira). Mesmo sem muitos momentos de tela, o ator (aliado a um excelente trabalho de maquiagem) mostra a mudança de Peeta ao longo do filme  de maneira impecável e, no momento em que isso atinge o clímax, somos presenteados com uma das sequências mais angustiantes da franquia. Liam Hemwsorth, a outra ponta do triângulo com Katniss, faz de seu Gale um personagem muito melhor e mais suportável, ajudado tanto pelo maior tempo em cena quanto pelos momentos em que o personagem mostra que é mais do que apenas um rostinho bonito.

O resto do elenco, à exceção de Phillip Seymour Hoffman, que assume um papel de líder político importante, aparece em momentos esparsos, mas consegue se firmar. Sam Claflin traz a tona o lado mais perturbado de Finnick (e, vale ressaltar, protagoniza uma das sequências mais angustiantes do longa), Elizabeth Banks e Woody Harrelson são o alívio cômico necessário e mesmo as estreantes Natalie Dormer e Juliane Moore brilham quando lhes é dada a chance – à segunda muito mais do que a primeira, é justo dizer.

E é exatamente em Plutarch Heavesbeen e seu jogo midiático que reside uma das belezas do longa (e da saga): Sua afiada crítica comunicacional. Toda a opressão em Panem foi construída por Snow (Sutherland volta matador, aliás) graças ao poder da mídia e é de uma belíssima ironia que seja esta a arma usada pelas forças rebeldes. As peças de TV, a construção da figura do Tordo, a tentativa de moldar Katniss perante as câmeras e Panem e todo o aparato de roteiro escrito para a personagem solidificam a reflexão, começada lá no primeiro filme, quando Katniss e Peeta forjam seu romance para conquistar o povo de Panem.

Claustrofóbico e intenso, Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 é, assim, um ótimo ponto de partida para a conclusão da história da garota em chamas. Com sequências por vezes angustiantes e abandonando de uma vez qualquer vestígio de trama adolescente, o longa firma-se como mais um acerto da franquia que, ano que vem, chega ao fim. Esperamos, então, que em 2015, Katniss consiga libertar Panem da opressão que lhe foi colocada e que a esperança triunfe. E é esta a lição que este filme deixa: Mesmo em meio ao dia mais cinza e a batalha mais difícil, há sempre tempo para uma canção e um revigorar de forças. Há sempre tempo para esperança.

Katniss demorou, mas parece finalmente caminhar para entender isso. Nós também. 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

(Re) começo

Caso alguém caia de cabeça no blog, pode parecer estranho o intervalo de anos entre as postagens. Eu gosto de escrever desde sempre. Desde que me entendo por gente, na verdade. E foi desse gostar que a ideia para o blog surgiu, anos atrás - e, é claro, este foi o 4º, 5º, 6º que tentei manter... Nem me lembro exatamente o número.

Como todos os outros, esse também ficou de lado. Até agora.

Quando o comecei, era um mero estudante de jornalismo. Hoje, já estou quase formado, com um pé fora da faculdade. Mas o amor pela escrita - e principalmente pela escrita CULTURAL - só aumentou. Nesse tempo, não fiquei parado, é claro. Continuei escrevendo pro Apaixonados por Séries - melhor lugar do mundo -, comecei a escrever pro Cine Marcado - também o melhor lugar do mundo -, sem contar as muitas conversas com amigos e os textos muitos vezes feitos em discussões no chat do facebook ou do whatsapp.

Enfim, de qualquer forma, aquela necessidade de ter um lugar só meu para expressar minhas visões sobre os produtos culturais voltou. E decidi, então, voltar com o blog. Com nome novo, uma identidade básica, mas com a mesma ideia e o mesmo objetivo.

Prometo que, dessa vez, as atualizações serão mais constantes. :)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Salve Jorge chega mesclando pontos positivos e negativos

E foi dada a largada. 

Estreou na noite de segunda, 21 de outubro, Salve Jorge, a nova novela do horário nobre da Rede Globo. Com a assinatura de Glória Perez, responsável por sucessos como Explode Coração, Barriga de Aluguel, O Clone e também por América, a segunda maior audiência do horário das 21hrs na década de 2000, a trama tem como protagonistas Nanda Costa e Rodrigo Lombardi e pretende discutir assuntos como o tráfico internacional de mulheres, além de ter parte de sua história ambientada na Turquia.

Não há como negar que o tema central é interessante. Conhecida por sempre trazer a tona temas aparentemente polêmicas, Glória acertou na escolha. Contudo, há que se deixar claro que de nada vale uma boa ideia sem uma boa execução. A expectativa que o primeiro capítulo deixou quanto a esse núcleo foi boa. Mesmo aparecendo apenas no final, conseguiu chamar atenção, especialmente na rápida aparição de Cláudia Raia como Lívia, a grande vilã da trama e Totia Meirelles como Wanda, seu braço direito. Duas atrizes já consagradas, junto com Giovanna Antoneli, foram os destaques positivos, junto com a belíssima abertura, embalada por Seu Jorge. 

Começar a história com um flashforward, 8 meses no futuro, foi uma sacada interessante e serviu pra despertar um maior interesse na história: Como Morena (Nanda Costa) foi parar na Turquia? As pessoas que a estavam leiloando tem ligação com a quadrilha de Lívia e Wanda? E Théo (Rodrigo Lombardi), onde entra nessa história? Se o que Glória Perez queria era aguçar a curiosidade, ela conseguiu. Resta saber quanto tempo de novela teremos até chegar àquele ponto. Uns 5 meses? Seria, talvez, o adequado. Arrastar o "mistério" até o fim pode ser um tiro no pé. Por agora, o que resta mesmo é esperar.

Quanto a fotografia, não há muito o que comentar. As imagens da Turquia  que abrem a novela são belíssimas - e nem tinham como não ser, assim como Caminho das Índias e O Clone. Um dos problemas, talvez, seja essa semelhança. Já tem gente classificando as três novelas como uma trilogia, o que, em uma análise superficial, não chega a ser absurdo. Antônio Calloni parece repetir o personagem de O Clone, teremos provavelmente um novo bordão e personagens com nomes exóticos, além das vestimentas já características. 

O roteiro também foi um dos pontos fracos dessa estreia. Abusando do didatismo, citando o São Jorge que dá título a novela, de cinco em cinco minutos, ele perdeu a oportunidade de delinear melhor as tramas que vão nos acompanhar pelos próximos 7 meses. Alguns personagens, como Helô (Antonelli) ficaram perdidos, presos numa linha tênua entre comédia e drama, sem deixar ao menos subentendida sua linha narrativa. A tão esperada reconstrução da pacificação no Complexo do Alemão incomodou pelo excesso de cenas já usadas em telejornais e que nada disseram, apenas pareciam estar ali por estar.

Apesar da personalidade forte de Morena, o que ficou evidenciado mesmo nesse primeiro capítulo é que o "Calcanhar de Aquiles" da história foi mesmo a escalação de Nanda Costa, que ainda não tem a maturidade suficiente para segurar um papel de protagonista de novela das 21hrs. Diferente de Deborah Secco e Juliana Paes, que começaram bombardeadas e depois viraram o jogo com público e crítica, o caso de Nanda é mais grave. Sem qualquer tipo de expressão facial, a atriz simplesmente expeliu o texto pela boca e, na tentativa de esconder a falta de emoção, usou-se de gritos e movimentos bruscos com o corpo, que incomodaram. Ainda não é possível dizer se ela terá ou não química com o Théo de Rodrigo Lombardi, mas uma coisa é certa: Se não melhorar logo, Morena provavelmente será ofuscada.

É impossível julgar uma obra por seu primeiro capítulo, mas, se aparar bem estas arestas, talvez Salve Jorge conquiste sua dignidade e seu espaço com o público. O potencial para ser um forte e típico folhetim existe, só precisa ser usado.

Com uma média de 36 pontos, e considerando-se o baixo share, o calor e o começo do horário de verão, é possível dizer que a nova novela de Glória Perez teve uma boa estreia em termos de audiência.  

     

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Porque eu amei o final de Avenida Brasil


Lá pras bandas do capítulo 150, quando Carminha consegue as fotos e conta a Tufão que Nina é Rita, o jogador decide tirar a história a limpo com a cozinheira. E no tão esperado acerto de contas, Tufão questiona Nina sobre seu desejo doentio de vingança e ela, inerte, sólida e firme, responde aquilo que prega desde quando foi jogada no lixão: “Não é vingança, Tufão. É justiça.”

Nina obteve sua justiça. A custo, a muito custo. Se enveredou em caminhos por muitos considerados obscuros, usou de tramoias, artimanhas, jogou sujo, se converteu em uma pessoa como Carminha, mas sem nunca perder seus valores primordiais, aquilo que aprendeu na sua criação.

Carminha e Nina vieram do mesmo material: Lixão.

Algoz e vítima, criador e criatura, reflexo e espelho. Uma não existia sem a outra, uma dependia diretamente da outra, pro bem ou pro mal, não cabe analisar a natureza de tal ligação. Nina via em Carminha alguém torta, quebrada e perversa, mas que, no fim das contas, se mostrou apenas uma versão distorcida da garotinha que um dia abandonou no lixão. A diferença é que Nina teve sorte e Carminha não. Foi criada por uma família maravilhosa que lhe ajudou a suprir a ausência que o pai lhe fazia.

É chover no molhado falar da desconstrução que João Emanuel Carneiro impôs aos esquemáticos papéis de mocinha e vilã, mas é essencial citar isso pra que se possa entender a construção narrativa irretocável da novela. No fim das contas, nem Nina e nem Carminha eram vilãs e mocinhas convencionais. Cada qual tinha seu papel designado, mas andavam na linha tênue entre o que ousou se configurar como certo ou errado, bem ou mal.

Quando Carminha escolhe atirar contra o pai e salva Nina e Tufão, a saga da cozinheira estava completa. Tudo que elas viveram na mansão, quando Nina a chantageava, as levou àquele momento. Nina pregava para Lucinda: O que eu quero é torná-la uma pessoa melhor. Fazê-la entender. Não vingança. JUSTIÇA. E Nina fez. Carminha demorou, mas entendeu. Seu pedido para que Nina disparasse a arma foi sincero. Seu discurso pra Tufão sobre amor e suas distorcidas formas foi sincero.  Carminha, ali, já tinha entendido.

De certa forma, talvez ela tenha visto em Nina aquilo que ela poderia ter se tornado caso a vida a tivesse levado para rumos diferentes. A conversa das duas no lixão, quando Carminha já aceitou seu destino e chance de recomeçar, resume perfeitamente a história das duas. Carmen Lucia nunca foi uma vilã convencional. Por que seu final havia de ser? Fugir do país com um marido rico? Morrer? Passar a vida atrás das grandes? Que nada. Mainstream demais pra João Emanuel Carneiro.

E, aqui, é o momento de bater palmas pra esse homem que, em 179 capítulos, construiu uma narrativa irretocável. Uma história coerente, com começo, meio e fim e eu desafio qualquer um que não tenha achado isso a me apontar UMA falha no enredo. Mas falhas, falhas. Buracos, coisas que não fizeram sentido. Não pen drives, lentidão em algum momento, bancos ou qualquer coisa do tipo. Tudo isso são escolhas criativas que, calcadas na verossimilhança (e não realidade) que a novela precisa transmitir, funcionaram.  (E não me venham aqui dizer que o filho da Suelen não aparecer é um erro, porque me digam em que isso faria alguma diferença pra trama?)

Eu digo sem medo nenhum: Avenida Brasil é mais do que o maior fenômeno de repercussão dos últimos anos, é a clara representação do que é teledramaturgia e a melhor e mais bem construída novela que eu já tive o prazer de assistir.

E, se amanhã, eu encontrasse João Emanuel Carneiro na rua, eu lhe daria um abraço, um beijo e diria: É DIVINOOOOOOOO! Pra terminar, só uma amostra do roteiro, ou um monólogo e o que faz Avenida Brasil ser simplesmente... Avenida Brasil.

“Da minha maneira maluca, eu te amei. Eu gostava de ser a esposa perfeita, gostava de ter uma família, gostava de te fazer feliz… Porque você me fazia feliz, como eu nunca eu nunca tinha sido antes, como nunca mais eu vou ser! Obrigada, viu? Eu só tenho mais um pedido a te fazer: cuida da Ágata por mim."
  

sábado, 13 de outubro de 2012

Avenida Brasil e a mudança no padrão

Que Avenida Brasil é a novela de maior repercussão no país desde - pelo menos - Celebridade, parece que não há o que discordar. A trama de João Emanuel Carneiro, que deve fechar com média geral de 39 pontos no IBOPE (tecnicamente empatada com sua antecessora, Fina Estampa), veio com tudo em sua reta final e vem atingindo índices bem mais altos que as 02 últimas novelas do horário na mesma altura. O capítulo de segunda, dia 08/10, onde Carminha foi escorraçada da mansão por Tufão atingiu impressionantes 49 pontos, a maior audiência de uma novela desde o capítulo final de Passione.  

O que eu quero discutir nesse texto, contudo, não tem nada a ver com o desempenho de Avenida Brasil em números. Muito, mas muito mais importante do que isso diz respeito ao que João Emanuel Carneiro e equipe fizeram em - até agora - 173 capítulos com relação ao modo de se contar, construir e levar ao ar uma novela. Costumo dizer que Avenida veio como um rolo compressor. Expulsando pra longe o fantasma de suas antecessoras, a trama de Nina e Carminha tornou-se o centro das atenções, o objeto de estudo de alguns acadêmicos, o tema de rodas de discussões entre amigos, a novela que parou o país, como há muito não acontecia. Em linguagem técnica? Um fenômeno.

Escrever sobre ela pode parecer fácil, mas não é. Qualquer coisa que se diga vai parecer pequena e não existem adjetivos suficientes para elogiar a construção narrativa que JEC escolheu usar. Renegando o clássico maniqueísmo folhetinesco, fórmula barata e rápida para o sucesso, ele nos trouxe uma mocinha com ares de vilã, uma vilã cujo passado ainda desconhecido pode ser a chave de tudo, o mais complexo mocinho dos últimos anos, isso pra começar. O que temos, em um olhar geral, é uma galeria de personagens tridimensionais, todos com bem e mal dentro de si e agindo e se moldando a medida que a trama avançava. Nem santos, nem demônios. Humanos. Que erram, acertam. E erram de novo.

A história da menina abandonada no lixão que voltou anos depois jurando vingança daria para preencher umas 03 novelas. É bem verdade que em certo ponto a trama pode ter pisado no freio para respirar durante alguns capítulos, mas quem disse que isso é demérito? Avenida Brasil nunca deixou de andar, em momento nenhum subestimou seu telespectador (e não, a falta de um pen drive não foi um erro, apenas uma escolha de roteiro que, sustentada na composição impulsiva de Nina, transmitiu a verossimilhança necessária) e possui não uma, não duas, mas cinco, seis cenas que entram facilmente para os anais da teledramaturgia brasileira.

Direção e fotografia dignas de cinemas - e, talvez por isso, confusas à grande parte do público - deram o tom sombrio e soturno que a maior parte da história pedia, mas não decepcionaram também nos núcleos cômicos, tão bem criados e delineados pelo roteiro que foi, talvez, o mais bem escrito por João Emanuel até agora. Diferentemente de suas outras 03 novelas, nada aqui estava fora do lugar. TODOS os núcleos funcionaram bem, encontraram seu lugar e conseguiram conquistar.

E como não falar do elenco? Ah, o elenco. Há quem critique o roteiro, a direção, os rumos ou qualquer outra coisa, mas criticar o elenco de Avenida Brasil é mais que absurdo, é imoral e criminoso. Adriana Esteves, Murilo Benício e Débora Falabella dispensam quaisquer elogios. Tentar usar alguma palavra para classificar o trabalho dos 03 é um pecado. Não existe ainda no dicionário. Para Marcelo Novaes, a glória. Max é o papel que ele esperou sua vida inteira. E fez valer. Está apenas o farelo. Mas ainda entregue. José de Abreu, Vera Holtz... A lista é extensa. Vale citar até a doce Mel Maia, que encantou o país nos 06 primeiros capítulos.

A 6 capítulos do fim, muita coisa ainda pode acontecer. Algo que manche o que esses outros 173 fizeram? Duvido. A teledramaturgia brasileira já pode ser dividida em antes e depois de João Emanuel Carneiro, o mais jovem autor do horário nobre e o responsável por mudar o padrão. Ninguém mais vai aceitar qualquer coisa agora.  E o mais sensato a se fazer após o dia 19/10 é fechar o horário. E não tem Jorge que nos salve.        

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the Huntsman)


Data de lançamento: 01º de junho de 2012.
Visto em: 06 de junho de 2012.

Cotação: 2/5


Em um ano em que os contos de fada parecem ter voltado com força total, Snow White and the Huntsman (do diretor estreante Rupert Sanders) é mais uma releitura da universalmente conhecida história da menina que tinha a pele branca como a neve e lábios vermelho-vivo, assim como Mirror, Mirror, lançado meses atrás. Mas, diferente deste segundo, que não tem pretensão nenhuma de ser algo mais do que uma simples diversão, o filme de Sanders falha em diversos aspectos ao tentar contar sua “versão macabra” da trama.

A grande diferença está no personagem do Caçador (Chris Hemsworth, simplesmente correto como sempre), geralmente conhecido apenas por levar a Branca de Neve (Kristen Stewart, tão apática quanto Bella Swan) à floresta e que, agora, assume um papel de mentor da princesa, conduzindo-a em salvação até seus aliados e, a partir daí, assumindo um papel chave na guerra contra a Rainha Má (Charlize Theron, que engole a cena para ela sempre que aparece).

A escalação do elenco e a estruturação da história se mostram como os principais problemas. Sustentar uma narrativa inteira nos ombros de Hemsworth e Stewart não se mostrou eficiente em momento algum, seja pela absurda falta de química entre os dois ou pela péssima apresentação da figura do Caçador, introduzida abruptamente quase no fim do primeiro ato, como se já fosse uma figura conhecida. O roteiro ainda tenta apelar para uma carga emocional quanto ao passado do “herói”, mas falha miseravelmente já que não há um alicerce básico para que ela funcione. O relacionamento entre os dois é mal conduzido, não anda em momento algum e, por isso mesmo, um dos recursos usados no final para tentar fugir ao clichê básico de histórias de princesa também não se encaixa e acaba soando mais como uma medida desesperada do que qualquer outra coisa.

É uma trama pedestre, que após o encontro dos dois simplesmente passa o segundo ato do filme inteiro dando voltas e mais voltas, entre farpas trocadas, perigos enfrentados ou qualquer coisa do tipo. Não empolga, não soa interessante e sequer é bem construída. Algumas atitudes não tem motivação alguma e fica claro que tudo o que querem é tentar criar um conflito. A inserção da figura de William (Sam Claflin, tão expressivo quanto Stewart) e o malfadado triângulo amoroso que é formado entre ele, Branca de Neve e o Caçador, que deveria funcionar já que a relação entre Branca e William, mostrada na sequência de abertura, foi uma das poucas coisas bem conduzidas, não aparenta qualquer razão de existir e acaba, já perto do clímax da história, tirando o foco da guerra para um romance mal orquestrado e com rumos extremamente óbvios.

Enquanto o primeiro ato segue correto até acabar de apresentar a história de Ravenna (a Rainha Má, Theron) e falha a partir do momento em que une Branca e o Caçador, os outros dois seguem no ritmo de uma avalanche, despencando mais a medida que os minutos avançam. A direção de Sanders mostra-se irregular, quase esquizofrênica, alternando rapidamente entre diversos planos e movimentos de câmera, especialmente nas cenas de batalha, falhas e mais parecendo uma confusão de rua. A figura dos anões também surge tardiamente na história e, assim como o Caçador, não funciona. Há, contudo, que se dar créditos ao humor que eles trazem, o que salva o longa do marasmo em diversos momentos, embora ainda destoe totalmente da função inicial que o roteiro os confere.

Theron é, inclusive, uma das poucas coisas boas que o filme traz. Com uma atuação no tom correto, ela constrói sua Rainha Má com maestria, tornando-a a melhor personagem do longa. E vejam bem, eu disse melhor, não bem escrita, já que enquanto ela parece ter motivações no começo da história, aos poucos aparenta deixá-las de lado, matando a torto e a direito e guiando-se apenas pelo desejo de eliminar a “mais bela do reino”, que, teoricamente (apenas teoricamente) é Branca de Neve. Nas cenas em que ela e Stewart se confrontam diretamente, a primeira engole a segunda e não deixa sequer espaço para um sorriso torto de lado. Sorrisos que conseguem ainda ser apáticos, quando estão no rosto de Kristen Stewart. Se Hemsworth é ao menos correto, a Branca de Neve em questão não consegue nem ao menos esse feito, soando artificial em praticamente toda a história, com a mesma impostação vocal e olhar patológico de Bella Swan.

O filme acerta do ponto de vista técnico – mas em proveito de uma história que não merecia tanto cuidado. A fotografia é belíssima, a reconstrução da época muito bem feita (desde os rios e castelos até o figurino) e as cores escuras dominam a narrativa, mostrando bem o tom sombrio que se tentou (miseravelmente) passar. Há um contraste interessante em alguns momentos, como por exemplo quando Bella (digo, Branca) foge do castelo montada em um cavalo branco e vimos, por uma tomada área, apenas o tal cavalo, se destacando em meio a toda a destruição do reino, como se Branca fosse realmente a única fagulha de esperança.

No fim das contas, o que mais incomoda é ver o potencial jogado no lixo. Uma versão sombria da história da Branca de Neve seria bem mais fácil de funcionar do que uma clássica releitura, mas a falta de sentido e a má estruturação de Branca de Neve e o Caçador fazem dela apenas mais uma entre tantas. Uma pena. Teremos que esperar mais um pouco para ver algo que remeta às verdadeiras origens macabras dos contos de fada.