sábado, 13 de agosto de 2011

Do Começo ao Fim

Do Começo ao Fim, filme de Aluízio Abranches que causou polêmica na mídia mesmo antes de seu lançamento, não respeita o título que leva; apresenta apenas o início e não parece se importar em desenvolver o meio e o fim. É belo apenas superficialmente e em algumas cenas. Não se aprofunda no tema que propõe (seja ele contar uma história de amor ou discutir temas como incesto e homossexualidade) e peca pela covardia de ir além, o principal fator que torna aquilo que poderia ser uma belíssima história em um amontoado de cenas soltas e atropeladas. 

A história de Francisco e Thomás começa na infância, interpretados pelo apenas correto Lucas Cotrim no papel do primeiro e o um tanto quanto robótico Gabriel Kaufmann na pele do segundo. O início do filme parece promissor, com o carinho acentuado entre os irmãos se desenvolvendo de maneira tal que sua mãe Julieta – atuação irretocável de Julia Lemmertz – perceba que algo de errado exista ali. Era a promessa de que uma história dramática e perturbadora de aceitação viria a seguir. É uma pena que tenha ficado apenas na promessa.

Os momentos posteriores do filme preocupam-se em mostrar apenas a relação adulta de Francisco (agora vivido por João Gabriel Vasconcellos) e Thomás (Rafael Cardoso). O incesto é esquecido e o que vemos é apenas a retratação de um amor entre dois homens adultos. Ao adotar tal postura, o longa joga fora qualquer possibilidade de debate social. E mesmo que o interesse da história fosse apenas desenvolver uma relação amorosa entre dois, como o diretor afirmou, existem as falhas. 

Um amontoado de beijos e cenas quentes e apelativas povoam a tela de maneira artificial e por muitas vezes sem transmitir emoção alguma. Um dos poucos pontos positivos se concentra em alguns diálogos entre os personagens. Porém, com exceção desses momentos onde alguma profundidade é alcançada, o roteiro é raso e falho na tentativa de transportar o expectador para a história. 

Tal falta de profundidade também se percebe no desenvolvimento da trama; ou na falta do mesmo. Não existe desenrolar da sexualidade dos garotos enquanto crianças ou da reação de seus amigos. Quando a fase adulta é atingida, tudo já está formado, mas o problema persiste. A impressão que fica é que o filme estaciona em certo ponto e não consegue se reerguer, sofrendo pela falta de um clímax. No momento em que o mesmo parece estar prestes a acontecer, a obra opta por seguir o caminho mais fácil e clichê, mergulhando em um marasmo sem fim e em situações desnecessárias e sonolentas. 

Em um mar de defeitos, Fábio Assunção também merece – ao lado da já citada Julia Lemmertz – destaque. Sua atuação correta livra o filme da chatice em alguns momentos, porém acaba revelando outra oportunidade perdida por Aluizio. A aceitação sem qualquer hesitação – pelo menos não retratada - pelo pai da família é fácil de ser mostrada, mas – infelizmente – não condiz com uma boa parcela da realidade social hoje.

Faltaram conflitos, faltou menos ilusão. Por mais que às vezes se torne preciso fugir um pouco da realidade da vida, Do Começo ao Fim faz isso com excesso e acaba se tornando inverossímil. Um filme que tinha tudo para ser brilhante, mas que foi apenas uma colcha de retalhos; retalhos distorcidos de um mundo perfeito e iluminado que ainda não existe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário