terça-feira, 16 de agosto de 2011

Super 8

O nome de Steven Spielberg nos créditos de produção de Super 8 não é mera coincidência. Escrito e dirigido por uma das mentes mais promissoras da nova geração, J.J Abrams (Lost, Fringe, Star Trek), o longa consegue ser mais “Spielberg” do que alguns filmes do próprio. Com um recorte infantil e um toque poético de classe, Super 8 não traz nada de novo – e nem se propõe a isso. É uma junção de elementos que já deram certo muitas vezes e que funcionaram mais uma vez aqui. Com o adendo da nostalgia, do qual Abrams usou e abusou, mas sem que soasse forçado ou incômodo.

O longa segue a trajetória de um grupo de crianças que, no verão de 1979, em posse de uma máquina Super 8, resolvem rodar um filme sobre zumbis e acabam presenciando um misterioso acidente de trem, que é o começo de uma série de mortes e desaparecimentos. 

O filme em alguns momentos lembra E.T, Tubarão, Parque dos Dinossauros e Guerra dos Mundos, mas consegue se destacar mesmo por sua história. Roteiro firme, bem amarrado e sem pontas soltas, que vai crescendo de acordo com o tempo de tela. Abrams foi feliz ao unir o clima de mistério - muito bem criado - em torna do monstro com as histórias em paralelo de seus personagens, todos muito bem construídos e com atuações sem falhas e na medida exigida pela trama.

A escalação de Joel Courtney para o principal papel se mostrou acertada; o garoto conseguiu se destacar mesmo em cenas com Kyle Chandler e Elle Fanning e construiu Joe de maneira a aproximá-lo do público que assistia, mesmo que sua história de garoto perturbado após a perda da mãe que tem uma relação conturbada com o pai (Chandler) e paixonite pela garota da escola (Fanning) não soasse exatamente original. Courtney dá ao seu personagem um tom crível e sua maior força está exatamente aí – É como se pudéssemos encontrá-lo em qualquer esquina.

Sem pressa em contar sua história, Abrams desenha pouco a pouco todos os detalhes importantes dela, encaixando os pedaços como num quebra cabeça. A cena da explosão do trem (sensacional por si só) gera uma reação em cadeia e o tom de mistério que o filme assume daí em diante, com as pessoas, animais e objetos sumindo, casa perfeitamente com o humor e o drama que vinham sendo mostrados anteriormente. Revelar o monstro alienígena aos poucos foi outro acerto e quando o clímax aconteceu, Super 8 mostrou que também poderia ser bélico e sem perder sua identidade.  

As sequências envolvendo o elenco infantil são uma bela maneira de se fazer cinema falando sobre cinema e é possível sentir até mesmo um tom autobiográfico em algumas das cenas, aqui e ali. As outras crianças também não decepcionam e entregam aquilo que se espera delas – uma diversão despretensiosa para os momentos de tensão que se mostravam cada vez mais presentes na trama. Contar a trama do ponto de vista das crianças poderia dar errado, mas funcionou e muito bem. 

O trabalho técnico do filme também é impecável. A fotografia escura, a pouca iluminação em algumas cenas e a reconstrução da época – já que a história se passa em 1979 – conseguem êxito sem que tudo soe artificial. A própria construção da personalidade das crianças lembra bastante à época e talvez tenha sido outro grande acerto rodar a história próxima aos anos 80 – Se os tempos fossem atuais, talvez tudo soasse inverossímil demais, inclusive as histórias paralelas, como o primeiro amor de Joe (Courtney) e Alice (Fanning). A trilha sonora (do sempre ótimo Michael Giachinno) caminha no mesmo estilo, lembrando em muito tais anos, e conseguindo casar muito bem com todas as cenas na qual é inserida.  

No fim das contas, Super 8 é uma viagem no tempo. Um filme infantil e adulto ao mesmo tempo e que por mais que seja maniqueísta em alguns pontos (Como o desenvolvimento das relações familiares) e simples em outros (Como a revelação da motivação do monstro), consegue funcionar muito bem por não ousar, em nenhum momento, ser mais do que isso: Uma história clássica de um grupo de garotos que, no verão de 1979, tinha uma câmera Super 8 e, com ela, pretendia rodar um filme e apenas aproveitar as férias.

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