Data de lançamento: 04 de maio de 2012
Visto em: 26 de maio de 2012.
Cotação: 4/5
(com leves spoilers)
Visto em: 26 de maio de 2012.
Cotação: 4/5
(com leves spoilers)
Estreia de Marcos Prado (diretor
do premiado Estamira) em um longa de ficção, Paraísos Artificiais traz como pano de fundo uma geração perdida (ou que
apenas mudou de lugar, isso depende do ponto de vista), que passa noites ao som
da música eletrônica, mergulhados no universo das drogas sintéticas e na busca
por algo que nem eles mesmos sabem o que é – provavelmente um lugar ao sol.
Passam-se os anos, mudam-se as concepções, mas a antiga utopia de ser grande e
querer dominar o mundo que aparece na juventude não deixa de se fazer presente.
Por meio da história de amor de
Érika (Nathalia Dill) e Nando (Luca Bianche), o longa nos leva a uma viagem
por esse novo cenário – com um tom psicodélico e sinestésico que confere toda a
diferença. Os dois jovens se conhecem em
Amsterdã. Érika está a trabalho e Nando, de certa forma, também. O contato
imediato faz nascer um sentimento forte e que tem razão de existir, já que os
dois já tinham compartilhado uma experiência poucos anos antes – da qual Nando não
se lembra.
Alternando entre três linhas
temporais (o presente, que abre o filme com a saída de Nando da prisão e dois
passados – um em Amsterdã e outro que mostra o primeiro contato entre o jovem e Érika),
o longa desenha a história entre os dois, trazendo o envolvimento com as drogas
como uma realidade presente – sem esquecer também de retratar as
consequências do mesmo, mas sem em momento algum parecer moralista ou
demonstrar algum desejo de fazer apologia – é apenas um retrato, nu e cru, de
uma nova juventude.
Tecnicamente, o filme é
irretocável. As tomadas de plano aberto das festas e das praias passam muito
bem a sensação de liberdade que aqueles jovens compartilham e os closes –
quando acontecem – trazem consigo o dever de mostrar que nem tudo é tão livre
como se parece; de uma hora para outra, é como se tudo se convertesse em uma
claustrofobia interior. Como se todos os gestos e atitudes cometidos servissem
para mascarar os problemas pessoais; as drogas sintéticas representam o
escapismo a que eles próprios se submetem, seja por um simples desejo ou por
uma necessidade silenciosa.
Filmado em Amsterdã, Pernambuco e
Rio de Janeiro, não há também muito que se dizer da fotografia, sempre alinhada
com a proposta do roteiro, seja lá qual for o momento do filme. Os cenários
belíssimos e por algumas vezes paradisíacos são o pontapé inicial da viagem que
o longa se propõe e, nas sequências sensoriais, psicodélicas ou alucinógenas, tudo
parece milimetricamente feito para funcionar. A trilha sonora funciona muito
bem em tais momentos, sendo a propulsora dos estímulos, ritmada no exato tom e
sem atrapalhar nada.
Não apenas nesses momentos, mas
durante todo o longa, a trilha é bem colocada, acentuando as diferenças entre
cada um dos tempos e, no que diz respeito a música eletrônica que domina uma
boa parte da trama, ajudando na sensação de liberdade transmitida, junto com os
longos e abertos planos.
A costura feita entre as três
épocas é extremamente bem sucedida, por conseguir saltar de um período para o
outro sem precisar do auxílio de legendas o tempo inteiro e sem deixar qualquer
dúvida de qual época está sendo retratada. É uma edição minuciosa, que ainda
acerta ao colocar algumas frases dos personagens em off, dando as referidas
cenas um clima mais intimista – o que nos leva novamente ao diferencial da
viagem (seja sensorial, narrativa ou psicodélica) que o filme propõe.
A história de amor de Érika e
Nando e simples e por mais que assuma alguns contornos clichês, em momento
nenhum esses detalhes soam como prejudiciais e o ritmo alternado contribui para
que exista uma fluidez, que faz com que as situações não pareçam cansativas.
Outro detalhe que ajuda na construção da linha narrativa é o contraste de
cores, vibrantes durante todo o período do festival no nordeste, mistas em
Amsterdã e escuras no presente – representando bem a escuridão que a vida deles
assumiu – o que, mais uma vez, tem profunda relação com o uso das drogas.
Contudo, o mesmo recurso de salto
entre os tempos acaba prejudicando um pouco a construção e a solidez dos
personagens. Talvez pelas grandes mudanças que eles sofrem com o tempo, não é
possível criar muito empatia e algumas situações que poderiam ser melhor
trabalhadas, acabam sendo apenas citadas ou mostradas em uma outra cena (muito
bem) intercalada na trama. A exceção acontece nas cenas de uso das drogas
sintéticas, onde todo o clima criado acaba fazendo com que possamos sentir o
que eles sentem.
Olhando superficialmente, não
chega a ser um problema , mas quando chegamos à cena final e a troca de olhares
entre Nando e Érika no meio da multidão não desperta curiosidade pelo que vem
além e expectativas para o futuro deles, esse fator acaba pesando um pouco. Vale ressaltar que em momento algum isso é culpa dos atores, bem posicionados, no tom adequado e passando o que o roteiro pedia. Destaque especial para Nathalia Dill, mostrando cada vez mais o quanto é uma atriz versátil.
De qualquer forma, acaba sendo um
detalhe, diante do conjunto da obra construído por Prado e equipe. Paraísos Artificiais é um grito contra a
caretice; o grito de uma geração que quer abraçar o mundo, se libertar de
valores e difundir novas ideologias. Como diz uma das personagens do longa, “sabedoria
demais enjoa e autoconhecimento em excesso dá vontade de vomitar.”
Ótimo texto, mais uma vez Alexandre, você falou tudo o que eu sinto sobre o filme. É difícil nos deparar com filmes nacionais tão bons quanto esse, sendo distribuídos nos grandes cinemas, o que vemos geralmente são aquelas porcarias da globo filmes ( apesar que Paraísos é da globo filmes rs). Enfim continue atualizando o blog, para nossa alegria rs
ResponderExcluirAle, eu adorei o filme, quando eu vi, sai do cinema completamente satisfeito. É bom ver produções nacionais se destacando. Muito boas as suas colocações.
ResponderExcluirAh, e eu adorei aquele final subjetivo. Nathália Dill me surpreendeu demais.