sábado, 13 de outubro de 2012

Avenida Brasil e a mudança no padrão

Que Avenida Brasil é a novela de maior repercussão no país desde - pelo menos - Celebridade, parece que não há o que discordar. A trama de João Emanuel Carneiro, que deve fechar com média geral de 39 pontos no IBOPE (tecnicamente empatada com sua antecessora, Fina Estampa), veio com tudo em sua reta final e vem atingindo índices bem mais altos que as 02 últimas novelas do horário na mesma altura. O capítulo de segunda, dia 08/10, onde Carminha foi escorraçada da mansão por Tufão atingiu impressionantes 49 pontos, a maior audiência de uma novela desde o capítulo final de Passione.  

O que eu quero discutir nesse texto, contudo, não tem nada a ver com o desempenho de Avenida Brasil em números. Muito, mas muito mais importante do que isso diz respeito ao que João Emanuel Carneiro e equipe fizeram em - até agora - 173 capítulos com relação ao modo de se contar, construir e levar ao ar uma novela. Costumo dizer que Avenida veio como um rolo compressor. Expulsando pra longe o fantasma de suas antecessoras, a trama de Nina e Carminha tornou-se o centro das atenções, o objeto de estudo de alguns acadêmicos, o tema de rodas de discussões entre amigos, a novela que parou o país, como há muito não acontecia. Em linguagem técnica? Um fenômeno.

Escrever sobre ela pode parecer fácil, mas não é. Qualquer coisa que se diga vai parecer pequena e não existem adjetivos suficientes para elogiar a construção narrativa que JEC escolheu usar. Renegando o clássico maniqueísmo folhetinesco, fórmula barata e rápida para o sucesso, ele nos trouxe uma mocinha com ares de vilã, uma vilã cujo passado ainda desconhecido pode ser a chave de tudo, o mais complexo mocinho dos últimos anos, isso pra começar. O que temos, em um olhar geral, é uma galeria de personagens tridimensionais, todos com bem e mal dentro de si e agindo e se moldando a medida que a trama avançava. Nem santos, nem demônios. Humanos. Que erram, acertam. E erram de novo.

A história da menina abandonada no lixão que voltou anos depois jurando vingança daria para preencher umas 03 novelas. É bem verdade que em certo ponto a trama pode ter pisado no freio para respirar durante alguns capítulos, mas quem disse que isso é demérito? Avenida Brasil nunca deixou de andar, em momento nenhum subestimou seu telespectador (e não, a falta de um pen drive não foi um erro, apenas uma escolha de roteiro que, sustentada na composição impulsiva de Nina, transmitiu a verossimilhança necessária) e possui não uma, não duas, mas cinco, seis cenas que entram facilmente para os anais da teledramaturgia brasileira.

Direção e fotografia dignas de cinemas - e, talvez por isso, confusas à grande parte do público - deram o tom sombrio e soturno que a maior parte da história pedia, mas não decepcionaram também nos núcleos cômicos, tão bem criados e delineados pelo roteiro que foi, talvez, o mais bem escrito por João Emanuel até agora. Diferentemente de suas outras 03 novelas, nada aqui estava fora do lugar. TODOS os núcleos funcionaram bem, encontraram seu lugar e conseguiram conquistar.

E como não falar do elenco? Ah, o elenco. Há quem critique o roteiro, a direção, os rumos ou qualquer outra coisa, mas criticar o elenco de Avenida Brasil é mais que absurdo, é imoral e criminoso. Adriana Esteves, Murilo Benício e Débora Falabella dispensam quaisquer elogios. Tentar usar alguma palavra para classificar o trabalho dos 03 é um pecado. Não existe ainda no dicionário. Para Marcelo Novaes, a glória. Max é o papel que ele esperou sua vida inteira. E fez valer. Está apenas o farelo. Mas ainda entregue. José de Abreu, Vera Holtz... A lista é extensa. Vale citar até a doce Mel Maia, que encantou o país nos 06 primeiros capítulos.

A 6 capítulos do fim, muita coisa ainda pode acontecer. Algo que manche o que esses outros 173 fizeram? Duvido. A teledramaturgia brasileira já pode ser dividida em antes e depois de João Emanuel Carneiro, o mais jovem autor do horário nobre e o responsável por mudar o padrão. Ninguém mais vai aceitar qualquer coisa agora.  E o mais sensato a se fazer após o dia 19/10 é fechar o horário. E não tem Jorge que nos salve.        

2 comentários:

  1. Penso que se as outras novelas não tentarem se adaptar ao roteiro ágil e esperto que JEC criou para nós, o público vai cada vez mais ir abandonando o folhetim das 9 que há muito não nos surpreendia. Cuidado, Glória Perez! Sua fórmula de visitar o Oriente talvez possa sair pela culatra.

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  2. Não acho essa novela tão boa assim como comentam! Vi somente os primeiros capítulos e já achei chatinha!
    Espero que Glória Peres faça melhor em Salve Jorge, pois sempre traz um problema social, no caso, tráfico de mulheres.
    Avenida Brasil já vai tarde!!

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