sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Porque eu amei o final de Avenida Brasil


Lá pras bandas do capítulo 150, quando Carminha consegue as fotos e conta a Tufão que Nina é Rita, o jogador decide tirar a história a limpo com a cozinheira. E no tão esperado acerto de contas, Tufão questiona Nina sobre seu desejo doentio de vingança e ela, inerte, sólida e firme, responde aquilo que prega desde quando foi jogada no lixão: “Não é vingança, Tufão. É justiça.”

Nina obteve sua justiça. A custo, a muito custo. Se enveredou em caminhos por muitos considerados obscuros, usou de tramoias, artimanhas, jogou sujo, se converteu em uma pessoa como Carminha, mas sem nunca perder seus valores primordiais, aquilo que aprendeu na sua criação.

Carminha e Nina vieram do mesmo material: Lixão.

Algoz e vítima, criador e criatura, reflexo e espelho. Uma não existia sem a outra, uma dependia diretamente da outra, pro bem ou pro mal, não cabe analisar a natureza de tal ligação. Nina via em Carminha alguém torta, quebrada e perversa, mas que, no fim das contas, se mostrou apenas uma versão distorcida da garotinha que um dia abandonou no lixão. A diferença é que Nina teve sorte e Carminha não. Foi criada por uma família maravilhosa que lhe ajudou a suprir a ausência que o pai lhe fazia.

É chover no molhado falar da desconstrução que João Emanuel Carneiro impôs aos esquemáticos papéis de mocinha e vilã, mas é essencial citar isso pra que se possa entender a construção narrativa irretocável da novela. No fim das contas, nem Nina e nem Carminha eram vilãs e mocinhas convencionais. Cada qual tinha seu papel designado, mas andavam na linha tênue entre o que ousou se configurar como certo ou errado, bem ou mal.

Quando Carminha escolhe atirar contra o pai e salva Nina e Tufão, a saga da cozinheira estava completa. Tudo que elas viveram na mansão, quando Nina a chantageava, as levou àquele momento. Nina pregava para Lucinda: O que eu quero é torná-la uma pessoa melhor. Fazê-la entender. Não vingança. JUSTIÇA. E Nina fez. Carminha demorou, mas entendeu. Seu pedido para que Nina disparasse a arma foi sincero. Seu discurso pra Tufão sobre amor e suas distorcidas formas foi sincero.  Carminha, ali, já tinha entendido.

De certa forma, talvez ela tenha visto em Nina aquilo que ela poderia ter se tornado caso a vida a tivesse levado para rumos diferentes. A conversa das duas no lixão, quando Carminha já aceitou seu destino e chance de recomeçar, resume perfeitamente a história das duas. Carmen Lucia nunca foi uma vilã convencional. Por que seu final havia de ser? Fugir do país com um marido rico? Morrer? Passar a vida atrás das grandes? Que nada. Mainstream demais pra João Emanuel Carneiro.

E, aqui, é o momento de bater palmas pra esse homem que, em 179 capítulos, construiu uma narrativa irretocável. Uma história coerente, com começo, meio e fim e eu desafio qualquer um que não tenha achado isso a me apontar UMA falha no enredo. Mas falhas, falhas. Buracos, coisas que não fizeram sentido. Não pen drives, lentidão em algum momento, bancos ou qualquer coisa do tipo. Tudo isso são escolhas criativas que, calcadas na verossimilhança (e não realidade) que a novela precisa transmitir, funcionaram.  (E não me venham aqui dizer que o filho da Suelen não aparecer é um erro, porque me digam em que isso faria alguma diferença pra trama?)

Eu digo sem medo nenhum: Avenida Brasil é mais do que o maior fenômeno de repercussão dos últimos anos, é a clara representação do que é teledramaturgia e a melhor e mais bem construída novela que eu já tive o prazer de assistir.

E, se amanhã, eu encontrasse João Emanuel Carneiro na rua, eu lhe daria um abraço, um beijo e diria: É DIVINOOOOOOOO! Pra terminar, só uma amostra do roteiro, ou um monólogo e o que faz Avenida Brasil ser simplesmente... Avenida Brasil.

“Da minha maneira maluca, eu te amei. Eu gostava de ser a esposa perfeita, gostava de ter uma família, gostava de te fazer feliz… Porque você me fazia feliz, como eu nunca eu nunca tinha sido antes, como nunca mais eu vou ser! Obrigada, viu? Eu só tenho mais um pedido a te fazer: cuida da Ágata por mim."
  

3 comentários:

  1. Assino embaixo. Esperar aprovação unânime é uma piada, então fico feliz de ter curtido esse final e visto a coerência do roteiro como vc. Acho que as pessoas são extramamente céticas com a possibilidade de alguém se arrepender de verdade, se transformar. Ainda mais ninguém menos que Carmem Lúcia; ainda mais nesse país do mensalão, de tantos que mentem de cara lavada. Mas eu sempre acreditei que as pessoas podem mudar sim, se arrepender sim. Se não por vontade próprio, por alguma peça da vida - como ocorreu com Carminha e sua entiada. E foi tão, mas tão melhor do que morrer, ou fugir. Ela evoluiu, de verdade, porque foi um processo longo e doloroso como você descreveu bem.
    Mas suponho que a minha felicidade com essa resolução se deve a essa...hum........fé, na capacidade de mudar. E também adorei o "Divino" congelado e toda aquela sequencia final.

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  2. Logo de inicio eu nao gostei do final,mas depois que lembrei dessas palavras da nina,aceitei melhor,o q a nina queria aconteceu, porem achei muito brusco o arrependimento da carminha.Acho q seria melhor se ela nao tivesse chance de fugir,mas ela teve e nao quis. Por exemplo o tempo q ela ficou na cadeia ela se arrependeria, porem ela se arrependeu antes disso,achei muito rápido, talvez seja a minha descrença no arrependimento do ser humano. E nao acredito nesse amor "louco" dela pelo tufao,ela amava o max e sempre deixou claro q só tava ali pelo dinheiro. E na minha opiniao nao ficou claro o motivo dela nao gostar da agata,quando a menina nasceu ela teve um olhar de desprezo pela nenem e a tratava mal sempre e sempre deixou claro q amava o jorginho e nao ela!

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  3. e o Santiago? nao entendi o fim dele.

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