Título original: The Hunger Games: Mockingjay - Part 1
Direção: Francis Lawrence
Cotação: 4/5
Eles costumavam gritar
meu nome. Agora o sussurram.
Os versos da cantora Lorde que acompanham os créditos de Jogos
Vorazes: A Esperança – Parte 1 dizem
muito mais do que aparentam. Fazendo coro a uma frase dita pelo extravagante
Ceasar (“A Capital a amava. Todos aqui adoravam a menina.”), percebemos que a
primeira parte do final da história de Panem é um longa muito mais político do
que seus antecessores. Esse fator, outrora rascunhado, finalmente ganha
contornos mais definidos e trocando a ação por um intenso e angustiante jogo
psicológico, a saga da garota em chamas atinge seu ápice e prepara o terreno
para um grand finale que promete ser
destruidor.
Esqueça as cores. Com um tom muito mais cinzento do que até
então, Francis Lawrence (retornando depois do excelente trabalho em Jogos Vorazes: Em Chamas) sabe pesar a
mão quando necessário e dar a suavidade nos momentos em que esta grita para
existir. A quase ausência de vida do filme neste sentido é um retrato perfeito
do que seus personagens passam: A angústia, o medo, a incerteza. A tão falada
esperança, reforçada no título, é tão frágil quanto a atual situação nos
distritos.
O estado de Katniss Everdeen, então, é a personificação
deste misto de sentimentos. Já na primeira cena, somos jogados na mente da
personagem e percebemos o quanto os jogos a mudaram – fato reforçado minutos
depois numa fala de Alma Coin (Julianne Moore, em uma adição maravilhosa). Agarrando
com unhas e dentes sua heroína, Jennifer Lawrence constrói seu melhor momento
na saga até aqui, usando todas as chances que tem de brilhar (e elas são
muitas, dado os muitos closes que Lawrence – diretor – escolhe usar, guardando
as sequências abertas para poucos momentos).
O desespero de Katniss pode ser sentido em vários momentos
durante as mais de 2 horas de filme e, muitas vezes, está em expressões. No
modo de sussurrar o nome de Peeta (Josh Hutcherson), no olhar perdido
procurando por um apoio, no cuidado ao andar até um hospital de feridos de guerra.
Na raiva que extravasa. No medo que deixa transparecer. Na fragilidade que,
aqui, está mais uma vez disfarçada pela casca dura – e por um traje de Tordo,
papel que, relutantemente, a garota finalmente assume.
Hutcherson, inclusive, também consegue aqui seu melhor
momento na série (e na carreira). Mesmo sem muitos momentos de tela, o ator
(aliado a um excelente trabalho de maquiagem) mostra a mudança de
Peeta ao longo do filme de maneira impecável e, no momento em que isso atinge o clímax, somos
presenteados com uma das sequências mais angustiantes da franquia. Liam
Hemwsorth, a outra ponta do triângulo com Katniss, faz de seu Gale um
personagem muito melhor e mais suportável, ajudado tanto pelo maior tempo
em cena quanto pelos momentos em que o personagem mostra que é mais do que
apenas um rostinho bonito.
O resto do elenco, à exceção de Phillip Seymour Hoffman, que assume um papel de líder político importante, aparece em momentos
esparsos, mas consegue se firmar. Sam Claflin traz a tona o lado mais perturbado
de Finnick (e, vale ressaltar, protagoniza uma das sequências mais angustiantes
do longa), Elizabeth Banks e Woody Harrelson são o alívio cômico necessário e
mesmo as estreantes Natalie Dormer e Juliane Moore brilham quando lhes é dada a
chance – à segunda muito mais do que a primeira, é justo dizer.
E é exatamente em Plutarch Heavesbeen e seu jogo midiático
que reside uma das belezas do longa (e da saga): Sua afiada crítica comunicacional.
Toda a opressão em Panem foi construída por Snow (Sutherland volta matador,
aliás) graças ao poder da mídia e é de uma belíssima ironia que seja esta a arma
usada pelas forças rebeldes. As peças de TV, a construção da figura do Tordo, a
tentativa de moldar Katniss perante as câmeras e Panem e todo o aparato de
roteiro escrito para a personagem solidificam a reflexão, começada lá no
primeiro filme, quando Katniss e Peeta forjam seu romance para conquistar o
povo de Panem.
Claustrofóbico e intenso, Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 é, assim, um ótimo ponto de
partida para a conclusão da história da garota em chamas. Com sequências por
vezes angustiantes e abandonando de uma vez qualquer vestígio de trama
adolescente, o longa firma-se como mais um acerto da franquia que, ano que vem,
chega ao fim. Esperamos, então, que em 2015, Katniss consiga libertar Panem da
opressão que lhe foi colocada e que a esperança triunfe. E é esta a lição que
este filme deixa: Mesmo em meio ao dia mais cinza e a batalha mais difícil, há
sempre tempo para uma canção e um revigorar de forças. Há sempre tempo para
esperança.
Katniss demorou, mas parece finalmente caminhar para
entender isso. Nós também.
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